terça-feira, 30 de agosto de 2011

O que é a liberdade?


LIBERDADE E DESTINO:

1. LIBERDADE: Ao contrário daquilo que muita gente pensa através do Senso Comum, para a Filosofia, a liberdade não é a total ausência de barreiras, ou seja, liberdade não é poder fazer tudo. Afinal, o ser humano possui limites, logo ele não pode fazer tudo, por exemplo, o ser humano não pode ser imortal, isto é, a pessoa humana não tem a liberdade de se tornar um ser imortal, mesmo que ela (a pessoa humana) deseje isto. Neste sentido de que a liberdade não é poder fazer tudo, a Filosofia diz que a liberdade é justamente a possibilidade que somente o ser humano possui de poder fazer escolhas dentro de certas circunstâncias. Assim, a liberdade humana é construída pelas escolhas que a pessoa humana realiza nas diferentes circunstâncias da vida. E estas mesmas circunstâncias da vida querem diminuir a própria liberdade do ser humano. Por exemplo: Agora, neste exato momento, você pode querer ler, entender e interpretar este texto e também, ao mesmo tempo, pensar em sua música preferida, mas a circunstância da vida de estar lendo este texto dificulta que você pense em uma outra coisa diferente dele, mesmo que seja algo tão importante para você como a sua música predileta, ou seja, ou você pensa no texto ou você pensa na música. Dessa forma, dá para notar que as circunstâncias da vida sempre buscam diminuir a liberdade da pessoa humana.
2. DESTINO: Já o destino, ao contrário daquilo que muita gente acredita pelos diferentes Discursos Religiosos, não é, pelo menos para a Filosofia, uma coisa “escrita nas estrelas”, coisa esta que o ser humano será obrigado a passar. Assim, por exemplo, quando estou andando por uma rua e, por acaso, encontro uma amiga, este nosso encontro não é obra do destino, mas é apenas uma simples coincidência, pois este nosso encontro poderia não ter acontecido, bastava que um de nós dois estivesse um pouquinho atrasado e nada teria ocorrido. Dessa maneira, a Filosofia busca entender o destino de uma outra forma, isto é, a Filosofia procurará compreender o destino a partir de três coisas diferentes, mas que juntas formam a própria idéia de destino. As três coisas são estas: a) Destino é aquilo que o ser humano não pode escolher, ou seja, o destino é o contrário da liberdade; b) O destino também é algo que não se tem uma boa explicação racional (Filosófica) para ele; c) E por fim, mesmo sem ser escolhido e sem se ter uma boa explicação racional, nós os seres humanos somos obrigados a viver certas coisas e estas coisas são o próprio destino. Por exemplo: O nariz que nós temos; nós não escolhemos o nosso nariz, também não dá para explicar direito porque o nosso nariz é de um certo jeito e não de outro, mas mesmo assim, somos obrigados a viver o resto de nossa vida com o nosso nariz do jeito que ele é (Pelo menos se não fizermos uma cirurgia plástica), por isso, o nosso nariz é um bom exemplo do que é o destino.
3. Até agora nós estudamos a liberdade e o destino separadamente, deste momento em diante, vamos tentar juntar os dois (A Liberdade e o Destino) a partir de quatro filósofos diferentes. Os quatro filósofos que nós usaremos para juntar a liberdade e o destino são: Maquiavel, Sartre, santo Agostinho e Hume.
4. MAQUIAVEL (Filósofo italiano do século XVI): Para Maquiavel, mais da metade de nossa vida é controlada pelos poderes do destino, ou seja, em mais de 50% de nossa vida nós não podemos fazer escolha alguma, é o destino quem decide. Porém, na outra parte de nossa vida quer nos sobra (Menos da metade), nós sempre poderemos fazer as nossas próprias escolhas e isto é a liberdade humana. Por isso, obrigatoriamente devemos usar toda a força de nossa inteligência para sempre escolhermos bem, ou seja, para fazermos escolhas ao nosso favor, e assim, poderemos aproveitar do nosso destino da melhor maneira possível, fazendo de cada situação do destino uma ocasião propícia para o nosso sucesso e felicidade.
5. SARTRE (Filósofo francês do século XX): Para Sartre, o ser humano é a sua liberdade e as suas circunstâncias, isto quer dizer que, ao mesmo tempo, a pessoa é a sua possibilidade de escolha e os limites impostos pela sua própria vida. Porém, Sartre compreende que o ser humano é obrigado ou condenado a ser livre, ou seja, em sua vida o ser humano é obrigado a sempre escolher e até mesmo quando a pessoa não escolhe, ela na verdade escolheu não escolher. Desse jeito, na visão de Sartre, o destino da pessoa humana é ser livre, isto é, o destino do homem é a liberdade.
6. SANTO AGOSTINHO (Filósofo africano do século IV): Para começar, Agostino chama a liberdade de Livre-arbítrio. Então pensando sobre o livre-arbítrio, Agostinho se pergunta o seguinte: O livre-arbítrio é ou não um bem dado por Deus ao ser humano? Afinal, através livre-arbítrio, o ser humano pode escolher certo na vida, mas também pode escolher errado. A resposta de Agostinho para esta pergunta é que o livre-arbítrio é sim um bem, mas é um bem intermediário, ou seja, é um bem que está entre os bens superiores e os bens inferiores. Os bens superiores são: justiça, verdade, bondade, temperança, beleza, virtude etc. Estes bens superiores não podem ser usados em excesso, para além da medida. Por exemplo: ninguém pode ser justo demais. Já os bens inferiores, que são coisas passageiras do mundo, são verdadeiros bens (Para Agostinho, as coisas do mundo não são coisas más), mas estes bens inferiores podem ser usados além da medida, por exemplo, a comida é um bem, porém nós podemos comer demais e assim passaremos mal do estômago. Ora, como o livre-arbítrio é um bem que está entre os bens superiores e os bens interiores, ele poderá ser usado de duas maneiras diferentes, uma para o bem e outra para o mal. As duas maneiras do homem usar o livre-arbítrio são as seguintes: a) Quando o livre-arbítrio vai para o lado dos bens superiores, o homem escolhe certo, portanto não se tem excesso e assim o livre-arbítrio é sim um bem dado por Deus ao homem; b) Mas, quando o livre-arbítrio é virado para o lado dos bens inferiores, a pessoa humana escolhe errado, dessa maneira, ela (A pessoa humana) abusa das coisas, vive o excesso e conduz a sua própria vida para o mal. Assim, para Agostinho, o destino e a liberdade do homem se encontram em uma mesma coisa: o ato de usar o livre-arbítrio para escolher certo, ou seja, para sempre escolher a partir dos bens superiores e dessa forma, o homem experimenta o livre-arbítrio como um bem dado por Deus à humanidade.
7. HUME (Filósofo inglês do século XVIII): Hume acha que o nosso conhecimento é formado pelo hábito. Por exemplo: Por que eu sei que o sol nascerá amanhã? A resposta é simples. Sei que o sol nascerá amanhã Porter visto o sol nascer todos os dias e isto se torna um hábito para o meu intelecto e isto cria em minha própria mente o conhecimento que o sol nasce todos os dias. Logo, pela força do hábito, sei que o sol nascerá amanhã. A partir desta compreensão de Hume, poderemos pensar na possibilidade de que o hábito fosse uma espécie de destino para a mente humana, ou seja, o hábito obrigaria a pessoa humana a sempre pensar do mesmo jeito e daí poderíamos tirar uma conclusão muito séria: Que nem mesmo nos nossos pensamentos, nós seres humanos teríamos alguma liberdade, ou seja, o destino controlaria tudo em nossa vida, inclusive, o nosso pensamento.
8. Mas a Filosofia é justamente um convite para pensarmos sempre o diferente, isto é, pela Filosofia, nós saímos do “hábito” de sempre pensarmos do mesmo jeito (Aqui, nesta frase, a palavra hábito não é como Hume entende, mas tem o significado de vício). Nessa forma de sempre pensar diferente, a Filosofia muito contribui para a nossa liberdade diante do destino, pois com a reflexão filosófica sempre poderemos pensar de uma forma diferenciada, aumentando assim a nossa compreensão sobre o mundo, sobre a vida e sobre nós mesmos. Desse jeito, quando aproveitamos de nossa liberdade filosófica, nós racionalmente fazemos escolhas cada vez melhores para a nossa própria vida. Em resumo, a Filosofia dá ao homem a liberdade de pensar cada vez melhor e assim, o próprio homem poderá sempre aproveitar bem do seu destino, isto na busca de sua felicidade.

Um comentário:

  1. Legal, Márcia... tenho humildemente aprendido muito com vocês.
    Um abraço

    Profa. Kátia

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